
A localidade de Maguanza, no posto administrativo de Moamba-sede, na província de Maputo, é um dos testemunhos de que o fosso entre os ricos e os pobres prevalece no país, mormente nas zonas onde até a buzina de uma motorizada ainda é um luxo. A penúria dos habitantes daquela parcela de Moçambique consiste na falta de um pouco de tudo, desde água e luz, passando pelos estabelecimentos de ensino e das unidades sanitárias, até desembocar na falta de meios de transporte. Aquela é uma circunscrição geográfica como outras várias esquecidas pelas autoridades no que diz respeito à construção de infra-estruturas e provimento de meios básicos para a sobrevivência de um ser humano.
Os habitantes do povoado de Mutange, que dista a 20 quilómetros da vila sede da Maganja da Costa, na província da Zambézia, pedem a construção de uma unidade sanitária com maternidade e abertura de furos de água potável com vista a aliviar o sofrimento a que estão sujeitos. O desejo foi manifestado nesta segunda-feira (24) à chefe da localidade, Helena Simões.
Aos 79 anos de idade, Fátima Alfredo, residente no bairro de Mavalane, na capital moçambicana, vive um dos piores dilemas da sua vida: Os filhos acusam-na de ser feiticeira e de estar a dizimar a família, para além de ser a responsável pelas desavenças no seio da mesma. Devido à suposta bruxaria, os filhos abandonaram a residência e deixaram a idosa à sua própria sorte, sem condições mínimas de sobrevivência, facto que está a causar bastante estupefação naquele bairro, sobretudo entre os moradores do quarteirão 15.
Centenas de famílias da Ilha de Moçambique, na província de Nampula, estão mergulhadas numa crise de água potável que se agrava a cada dia que passa. A incapacidade do governo local em resolver o problema é de tal sorte que responsabiliza a empresa China Jiangxi Corporation for International Economic & Technical Cooperation de estar a atrasar a reabilitação de um sistema de abastecimento do preciso líquido.
Duas crianças morreram carbonizadas e várias famílias abandonaram a comunidade de Namutcho e perderam os seus bens em virtude de um incêndio alegadamente provocado pela Polícia, na manhã da última segunda-feira (16), no posto administrativo de Namanhibir, a 40 quilómetros da cidade de Montepuez, na província de Cabo Delgado.
Enquanto o Executivo moçambicano continua a alocar um maior bolo do Orçamento Geral do Estado ao Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE), às Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e ao Ministério da Defesa Nacional, por exemplo, o Hospital Geral de Marrére (HGM), na província de Nampula, uma das mais antigas unidades sanitárias da capital da região norte de Moçambique, está em situação precária e em condições precárias de funcionamento em virtude de se encontrar a ruir aos poucos, para além da falta de medicamentos para os doentes, mormente para os que padecem de tuberculose e VIH/SIDA. Os relatos dos enfermos e seus parentes dão conta de que há sempre ruptura de fármacos e o atendimento é mau.
Numa altura em que se clama por uma educação de qualidade e as estatísticas do Governo transmitem a ideia de que o país está a registar alguns progressos, a cerca de 40 quilómetros do coração da capital moçambicana, Maputo, impera uma outra realidade chocante, que anula o discurso oficial sobre os sucessos na área da instrução, pelo menos no meio rural. Na Escola Primária de Mahulana, no distrito da Moamba, na província de Maputo, onde a pobreza se faz sentir e fere a alma de qualquer visitante, os alunos da 1a classe assistem às aulas sem livros, lápis, calçado e fardamento, por exemplo. O cenário repete-se na 6a classe. Já no ensino secundário, que funciona em salas anexas nas mesmas instalações, no período da tarde, algumas educandas da 8a a 10a classes interrompem os estudos devido à situação de gravidez precoce.